domingo, 11 de abril de 2010

Belo Horizonte, 11 de abril de 2010

E a saga de “Rabiscos Acalantos” continua...


Coisas


Coisas que aconteço

Sofro que adormeço

Perdendo-me em nuvens

Tal lagarto descoberto

Criatura de feltro

Eu seguida estrofe

Fico em mim, pairo

Num papel de coração

Iscas d’um acordar de flâmula

Oscilar

Influi em ti

O que de mim foi chorar

Chora cá o infinito de lá

Sem filosofar, eu escrevendo a esmo

Por conseguinte, ereto de semblante

Caminho sobre o distante

De meu longínquo espelho

Salvo bolhas de sabão

É coisa elementar

E adormeço de coisas que aconteço


Tenho um amargo

Guardado

E encardido

Mal amado, fingido.

Tímido

Mal entendido

(comum às pessoas no seu íntimo)

De onde sai o medo

a vontade

A saudade

O desespero

Um azedo,

Amargo

Do morrer mais cedo


O ridículo é característica de todo ser humano, mesmo que parcialmente
Um tratado da palavra


A palavra invade a gente

Palavra me define

a palavra me definha

a palavra me submete

a palavra é bela

a palavra é tradução do que quero e às vezes não consigo

a palavra é até o que eu não digo

Levo minha palavra no bolso da mente

A palavra causa

a palavra mágoa

a palavra fere dentro

Não vivi sem ela

pois desde menino minha mãe

cobrava:

-fala filho!

-diz

-repete!

A palavra certa às vezes é a palavra errada

Gestos são letras

Mímicas são frases

sentimentos são textos tensos

olhares palavras eficazes

Pensamento: a palavra calada

O meu verbo não é o meu princípio?

Defequei palavras em papéis

vomitei a contra partida de meu verbo

Sou menos que um fonema

Sou uma sílaba de metáfora

Uma metáfora da mentira

Sou um poema disfarçado, safado, metamorfoseado

Minhas palavras gerais de Minas

Tudo inclui a palavra

Devoro livros

cuspo dizeres e dependendo os escarro

O silêncio é palavra

o movimento é fala

Nome é palavra.

Dizem ter palavras que não

podem ser ditas.

Minha palavra é desacostumada

Minha palavra é franca

O sentimento é alfabeto do coração

Na palavra há um mundo de mistério

Viajo nas palavras

Visto-me de letras

falo lento, rápido, gaguejo

Sou um substantivo concreto que almeja o abstrato

Minha palavra é rabiscada

Minha palavra é pobre mas é digna como povo de roça

Palavra é vida, é morte

A vida é memorial de palavras a esmo!

Minha palavra é curta

dura somente uma vida

minha palavra sofrida.


Pedaço de papel

Para ser preenchido

Pedaço de saudade

Para ser reprimido

Pedaço de música

Para ser ouvido

Pedaço de alegria

Para ser vivido

Pedaço de poesia

Para o ser


Quem irá dizer?



Esse antro que me atrai

Esse astro que arrasta essa ânsia, essa dor

Caco de vida mal colado

Insônia que ficou

Esse jeans velho, desbotado

Já foi estrela em nosso show

Já virou obsessão

Verlaine e Rimbaud

Abrevio nosso histórico

Recitando em versos tortos

Numa estrofe decadente

De poeta vacilante

Vou em frente

Mesmo errante

E quem irá dizer que o amor não resistiu até aqui?


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