Coisas que aconteço
Sofro que adormeço
Perdendo-me em nuvens
Tal lagarto descoberto
Criatura de feltro
Eu seguida estrofe
Fico em mim, pairo
Num papel de coração
Iscas d’um acordar de flâmula
Oscilar
Influi em ti
O que de mim foi chorar
Chora cá o infinito de lá
Sem filosofar, eu escrevendo a esmo
Por conseguinte, ereto de semblante
Caminho sobre o distante
De meu longínquo espelho
Salvo bolhas de sabão
É coisa elementar
E adormeço de coisas que aconteço
Tenho um amargo
Guardado
E encardido
Mal amado, fingido.
Tímido
Mal entendido
(comum às pessoas no seu íntimo)
De onde sai o medo
a vontade
A saudade
O desespero
Um azedo,
Amargo
Do morrer mais cedo
O ridículo é característica de todo ser humano, mesmo que parcialmente
Um tratado da palavra
A palavra invade a gente
Palavra me define
a palavra me definha
a palavra me submete
a palavra é bela
a palavra é tradução do que quero e às vezes não consigo
a palavra é até o que eu não digo
Levo minha palavra no bolso da mente
A palavra causa
a palavra mágoa
a palavra fere dentro
Não vivi sem ela
pois desde menino minha mãe
cobrava:
-fala filho!
-diz
-repete!
A palavra certa às vezes é a palavra errada
Gestos são letras
Mímicas são frases
sentimentos são textos tensos
olhares palavras eficazes
Pensamento: a palavra calada
O meu verbo não é o meu princípio?
Defequei palavras em papéis
vomitei a contra partida de meu verbo
Sou menos que um fonema
Sou uma sílaba de metáfora
Uma metáfora da mentira
Sou um poema disfarçado, safado, metamorfoseado
Minhas palavras gerais de Minas
Tudo inclui a palavra
Devoro livros
cuspo dizeres e dependendo os escarro
O silêncio é palavra
o movimento é fala
Nome é palavra.
Dizem ter palavras que não
podem ser ditas.
Minha palavra é desacostumada
Minha palavra é franca
O sentimento é alfabeto do coração
Na palavra há um mundo de mistério
Viajo nas palavras
Visto-me de letras
falo lento, rápido, gaguejo
Sou um substantivo concreto que almeja o abstrato
Minha palavra é rabiscada
Minha palavra é pobre mas é digna como povo de roça
Palavra é vida, é morte
A vida é memorial de palavras a esmo!
Minha palavra é curta
dura somente uma vida
minha palavra sofrida.
Pedaço de papel
Para ser preenchido
Pedaço de saudade
Para ser reprimido
Pedaço de música
Para ser ouvido
Pedaço de alegria
Para ser vivido
Pedaço de poesia
Para o ser
Quem irá dizer?
Esse antro que me atrai
Esse astro que arrasta essa ânsia, essa dor
Caco de vida mal colado
Insônia que ficou
Esse jeans velho, desbotado
Já foi estrela em nosso show
Já virou obsessão
Verlaine e Rimbaud
Abrevio nosso histórico
Recitando em versos tortos
Numa estrofe decadente
De poeta vacilante
Vou em frente
Mesmo errante
E quem irá dizer que o amor não resistiu até aqui?
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