Caipira do choro sumido
Terra vermeia
Chão seco: isturricado
Mata torrada pelo sol indiabrado
Dói inté os osso de vê
A braqueara magrela
E a boiada
Boiada amuada
Amuada igual meus fio
Só pele e osso
Descarnado
Experimentado de vida
Vida safada
De bucho vazio
E vou cavano minha cova
Com as enxadada da vida
E a vida vai seno meu leito de morte
Onde findano vai minha sorte
O sabiá já inté gagueja
Pois num guenta cantá
Antonce, fraco eu escrevo
Pois já num guento nem falá
O carro de boi parado
Numa sinhora tristeza
No meio da seca marvada
Fia bastarda da mãe natureza
E o ristinho de vida
Vai acabano aos poquim
Roeno os osso fraquejado dos bacuré siquim
E o caipira já nem chora
Pois nem lágrima tem
A seca levô inté a água dos óio
E nem mais com os pensamento a terra eu móio
Vou pra otras parage
Esperano que Deus senhor santo
Arrume uas midida
Pra estancá o meu pranto
Que preso no meu peito
Me mata desse jeito
Me sufoca
Quereno saí do coração
Mas acabou-se toda água
Nas banda desse sertão
Que inté de dentro desse cabôco
Secô a úrtima gota da ilusão
Passam por mim
Experimentam-me
Vivem-me
Sonham-me
Tem-me como trabalho, como mulher
Berço para fulanos
Bagagem para sicranos
Dou-lhes poeira que acento e torna-os grisalhos
Por mim traçam caminhos
Por mim que sou faca de gumes sutil e desdentada
Seguida e admirada passo por vidas
Pés me marcam, me cobiçam
E deliciam-se
Sou morada dos ébrios que procuram o meu fim
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